segunda-feira, 27 de abril de 2009

E não são apenas os trolleys.

São também os turistas, de câmara em punho, sorriso em riste e olhar deslumbrado.

E os aviões que eu via levantarem voo de cada vez que ia a atravessar a Vasco da Gama. O Tejo aos pés e eles de nariz levantado, ainda a ganhar altitude. Quando eles subiam, desafiando as leis da física, eu imaginava todo um mundo de possibilidades.
Quando via esses aviões partirem, enquadrados na moldura perfeita do fim de tarde a cair sobre Lisboa, perdia o resto do caminho a imaginar qual o seu destino. Mas também a vida de cada passageiro, os motivos porque partiam ou porque regressavam.

Esta nossa eterna capacidade de manter a cabeça nas nuvens. Nunca nos abandonará. Acho que, no que a mim me diz respeito, se deve a essa inconsciente (mas sempre presente) ânsia de mudança. De querer estar noutros lugares.

Depois de ler o teu post, e porque era Domingo, resolvi deixar o relógio em casa. Para o coração da velha cidade, em busca de trolleys e de turistas, de corações que vibram, que batem tão forte e tão alto que eu, estando ali ao lado, chego a conseguir ouvi-los.

Corações de quem viaja. Com o corpo e com a alma.

E tu, nova viagem?!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Trolley

Acabaram-se as mini férias!

Estou de volta a casa, ao trabalho, à minha vida.

Já imaginaste alguma vez o poder que exerce na nossa imaginação uma pessoa que passe por nós atrelada com um Trolley?

Não?!

Provavelmente não. Mas, pensa comigo: vais na rua, na tua vida, atrasada para um café ou almoço, passo rápido, célere, a olhar constantemente para o relógio - eu sei como detestas chegar atrasada ao que quer que seja -, a olhar novamente para o relógio enquanto, silenciosamente, refilas com o homem que te foi arranjar a televisão (a nova!), porque também ele se tinha atrasado! Quando, mais uma vez, a meio de um novo olhar, não completas o gesto porque passa por ti alguém com um Trolley! Qual a primeira coisa que te vem à cabeça? O primeiro pensamento? A primeira pergunta?

... (deixo este espaço para que penses na resposta)...

Pois, eu sei qual é o meu primeiro pensamento, a minha primeira pergunta: "Está a chegar ou está a partir?" Pergunta essa, seguida de forma peremptória de: "De onde ou para onde?"

E, a partir daí, a imaginação voa, alto, altiva e independente, vouyerista: será que se divertiu? o sitio correspondeu às expectativa? recomendaria? pensa lá voltar? a areia é branca e fina? a mais branca de todas? os monumentos estão bem conservados? qual a nova linha das t-shirts do Hard Rock?

Por outro lado: agora o que me apetecia mesmo era agarrar naquele Trolley e seguir recta que nem uma seta para uma qualquer ilha, quente, divertida, longínqua; apanhar o avião e sair directamente no cimo dos Alpes e esquiar todas as curvas fofas de neve; correr e ainda conseguir entrar na última visita guiada em Inglês do Hermitage; ou, simplesmente, estar sentada na espreguiçadeira mais confortável do novo navio que cruza o Mediterrâneo em direcção a Myconos.


É este o poder dos Trolleys!

O de nos levarem para onde nos apetece!

E, ao olhar para o meu, acabado de chegar, com as pequenas rodas aindas quentes da calçada portuguesa, as fitas verdes do aeroporto coladas de lado, a primeira coisa que me vem à cabeça, o primeiro pensamento, a primeira pergunta... Açores?

A.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Com 'A' maiúsculo

Como é que nós sobrevivíamos antes disto tudo?
Antes da net, dos portáteis, dos iPod, dos telemóveis e dos comandos televisivos?

Eu lembro-me de passar horas a devorar livros em vez de andar a pular de site em site a ler, no máximo, três parágrafos sobre um qualquer assunto. Lembro-me dos velhinhos computadores que exigiam muita paciência para abrir o mais simples documento.

Lembro-me tão, tão bem (e as saudades que tenho...), de escolher um cd, comprá-lo e, depois, chegar a casa e ouvi-lo de uma ponta a outra. Ouvir todas as músicas com uns phones gigantescos, enquanto folheava o booklet e lia atentamente todas as letras de cada canção, mergulhando num mundo musical só meu. Em vez desse maravilhoso ritual, hoje descarrego músicas individuais para ouvir em formato digital. Continuo a comprar cd's pelo prazer que me dá tê-los na mão...mas falta-me o tempo para o velho ritual. Porquê? Porque normalmente o telemóvel toca, ou uma mensagem chega e eu respondo sem precisar sequer de olhar para o teclado, como se aquele pequeno objecto fosse já uma extensão do meu braço.

E quem diz o telemóvel, diz o comando da televisão. Mais o comando do leitor de dvd's, o comando da televisão por cabo e o comando do sistema de Dolby Surround. Fazemos zapping por programas aos quais não dedicamos, por norma, mais que cinco minutos da nossa atenção. Eu lembro-me de passar horas a ver o mesmo canal e das discussões geradas em torno de quem se ia levantar para mudar para outro.

Lembro-me de tudo isto e do saudosismo das coisas simples da vida, como alugar um carro e ir de cabelo ao vento só com dinheiro para a gasolina.

Por isso, nem toda a melancolia e saudosismo são maus. Lembram-nos as coisas boas e importantes e fazem com que pessoas como tu voltem a tomar as rédeas da sua própria vida. "Óh alma portuguesa", dizes? Não é uma qualquer alma. É a Alma portuguesa. Assim mesmo, com A maiúsculo.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

A Bagagem II


Passo um: respirar porque o avião aterrou em segurança.
Passo dois: confirmar se nenhuma mala se "extraviou" pela enésima vez.
Passo três: alugar um descapotável!


Paris já ficou para trás - até à próxima vez, cidade da Luz - e, apesar de ter sido em trabalho, a viagem desta vez foi bastante prazerosa, como de resto deveriam ser todas as viagens (e todos os trabalhos).

Mas Lisboa desperta em mim uma certa melancolia, cada vez mais acentuada à medida que me vou encontando mais distante (melancolia, saudosismo, óh alma Portuguesa!).

Por isso mesmo, resolvi mostrar a todos estes sentimentos que quem os controla sou eu e não o contrário: aluguei um descapotável e aqui vou eu "por aí", ao sabor do vento, das ondas e da minha vontade!

Não vou com um destino pré-definido, o verdadeiro prazer da aventura é esse mesmo: ir à descoberta. Pé no acelarador, o vento quente a roçar a cara, a revoltar os cabelos.

E na bagagem, tal como dizias, não interessa se trago a minha nova Fendi ou a scarf da Gucci que tanto prazer me deu comprar. Hoje, trago comigo tudo aquilo que de mais importante tenho: o comando da minha vida e as memórias de tudo e todos os que me fazem sorrir com verdadeiro prazer, e não são poucos! De material, trago dinheiro para o gasóleo e a minha máquina fotográfica.

Trabalho? Claro, daqui a uns dias, quando estas mini-férias acabarem.

Fica bem e dá notícias do museu e minhas ao museu :)

A.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A Bagagem



Transportes. Em teoria, levam-nos do ponto A ao ponto B. De preferência inteiras e sem acidentes de percurso, de malas e mochilas atrás. Mas...e o resto da bagagem? Que dizer de toda a bagagem emocional que levamos connosco, que deixamos para trás?

O que é que é realmente importante de levar na bagagem?

Há não muito tempo atrás, enquanto fazia as malas e enlouquecia a tentar descortinar como enfiar tudo o que queria numa só mala, dei conta que eram as coisas mais triviais que não queria deixar para trás. Fotos, pequenos objectos sem valor aparente, este ou aquele cd. Como se dizia no filme, "believe me, nothing is trivial".

E é precisamente ao chegar ou ao regressar que nos apercebemos da importância dessas trivialidades na nossa vida. Da recordação ou da antecipação dos sorrisos, dos abraços, das palavras simples, dos olhares carregados de cumplicidade, dos copos de tinto em boa companhia, da luz de Lisboa, deste ou daquele recanto do sítio a que chamamos "casa".

Por isso, as borboletas no estômago ou a sensação de absoluta impotência quando nos reduzimos à nossa insignificância no assento num avião parecem-me um preço muito pequeno a pagar.

B.

domingo, 5 de abril de 2009

Pleno Voo


Hey!! Ou melhor... hey...

Tinhas razão, estou em pleno voo Paris - Charles de Gaulle heading Lisboa - Portela. E, mesmo sendo a "enésima" vez que viajo de avião, tenho aqui um ligeiro desconforto no meu estômago. Não são borbuletas, infelizmente, que essas ainda me lembro bem da sensação que causam, mas sapos... não sei não...

A ideia que temos dos meios de transporte em geral talvez não tenha mudado assim tanto ao longo dos tempos. Os transportes, esses sim, mudaram. Sem dúvida alguma que o avião é o meio de transporte mais seguro dos tempos modernos. O número de acidentes que existem são irrisórios face ao número de acidentes de viação que ocorrem todos os dias, a toda a hora, em todos os minutos, em todo o mundo. Até os comboios descarrilam mais vezes. Os barcos afundam! Actualmente, os nossos aviões já quase que nadam! Existe, efectivamente, um novo herói à escala mundial que conseguiu que o avião que pilotava amarasse em pleno rio Hudson para gáudio do orgulho americano (e para a felicidade de todos aqueles que lá iam dentro e das suas famílias, não quero ser injusta...)

Mas, nem estes factos me deixam mais descansada quando atravessamos um poço de ar ou quando o avião tem que andar em manobras em pleno céu! Será preciso fazerem tantas curvas para aterrarem?...

Poderá estar relacionado com a sensação de impotência? Com a perda de controlo? Se eu for de carro, principalemnte se for eu a conduzir, posso ter algum controlo sobre o que se passa. Ou não. Se tiver um acidente, posso sempre tentar sair do carro e proteger-me de alguma maneira. De barco... bem não sei conduzir um barco, mas sei nadar! Agora, voar?! Ainda não aprendi... e o Ícaro só me deixou algumas ideias vagas e pouco eficazes de como se faz :P

Na realidade, não há nada como ter os pés bem assentes na Terra! A cabeça, essa, pode perfeitamente andar nas núvens e deve mesmo passar por lá de vez em quando, só para não se esquecer como é! Agora, o corpo não tem que acompanhar!!!


Por isso mesmo é que te estou a escrever em pleno voo, para ver se passa mais rápido!

E não é que deu resultado?! "Ladies and Gentlemen this is your Captain´s speaking. Please take your seats and fasten you seat belts"

E cá estou de novo.

Lisboa é, sem dúvida alguma, a cidade mais bonita do Mundo!


A.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Hey u!

Não, não consegues imaginar a minha cara. Mas ela ficou registada nas câmaras de segurança, para gáudio e felicidade de todos...
Depois desse incidente, que se tornou motivo de piada por todo o Museu, não foi preciso cá mais nenhum forward, e-mail, memo ou o que quer que seja. Toda a gente sabia quem eu era. Todos. Até as senhoras da limpeza.

Mas para dizer a verdade, há males que vêm por bem e o meu trabalho ficou muito mais facilitado. Todos os funcionários ficaram mais receptivos à minha presença e o episódio da minha "detenção" acaba sempre por funcionar como quebra-gelo nas conversas. Ao que parece, foi um problema informático qualquer que teve a ver com umas actualizações aos programas da recepção. Qualquer coisa do género. Não sei se foi realmente isso mas vou acreditar que as coisas aqui funcionam mesmo de maneira diferente do que em Portugal. Outras coisas que funcionam de maneira diferente: ninguém acha que estou aqui para lhes roubar o lugar e há um ambiente descontraído e informal. Exactamente como eu sempre desejei.

Assim, depois de conhecidos todos os funcionários, estou a debruçar-me sobre os visitantes do Museu para poder começar a traçar projectos de integração, interacção e actividades. Também há que captar públicos novos. Na próxima semana, tenho reunião com a Direcção para apresentar os primeiros esboços e decidi começar pelos mais novos. Já existe uma visita guiada para os mais pequenos mas quero torná-la mais dinâmica e animada, com actividades nos jardins (que estão claramente subaproveitados). Ontem acompanhei uma dessas visitas. Um grupo de miúdos de pré-primária, com 4 anos. Em fila, agarrados aos bibes do coleguinha da frente. Acreditas que não houve uma única birra?! Ninguém chorou ou amuou! Nem mesmo frente a alguns dos quadros mais abstractos, com dois ou três borrões de tinta (onde até a mim às vezes, secretamente, me dá vontade de chorar...).

Era bom que em Portugal também fosse assim. Apresentar os putos à Cultura e mostrar-lhes que ela não é um bicho de sete cabeças. Começam a haver esforços nesse sentido, é certo. Mas é triste ver a ignorância e a falta de interesse...

E pronto, muito trabalho no futuro próximo e uma vontade tremenda de o fazer! Por esta altura já deves estar em pleno voo, a deixar Paris para trás, bem como uma dezena de criancinhas assustadas e de lágrimas nos olhos, traumatizadas porque lhes roubaram a moedinha que iam mandar para a fonte. Shame on you!!! Agora mais a sério, sei que no meio de tantos desejos pediste um por mim: que em breve possamos percorrer e sonhar nas ruas de Paris. As duas. Quem diz Paris, diz outra grande cidade qualquer. Essa proposta que lançaste para o ar há uns tempos, ainda se mantém?

See ya soon,
B.

p.s. - primeira aquisição supérflua lá para casa: uma televisão. É ridículo, eu sei, mas pelo menos não sinto a casa tão vazia de gente. O problema foi que, como era uma promoção fantástica, não havia serviço de entrega ao domicílio. Cravei o vizinho do 1º andar para me ajudar a levar o "monstrinho" escadas acima. Das duas uma, ou arranjei a forma perfeita de conhecer a vizinhança ou ando por aí a criar ódios de estimação.

Hey!

Não consigo parar de me rir ao ler a tua carta!
Aliás, o que consigo perfeitamente é imaginar a tua cara enquanto o segurança se dirigia para ti de walkie-talkie em riste!

Este tipo de situações são curiosas. A burocracia parece uma pedra no sapato à escala global. Por quantos desktops diferentes terá passado o memo a avisar a tua chegada? Em qual deles terá ficado estacionado? E terá sido entre um foward em versão mpeg ou uma conversa de messenger tipo flirt? Ops, ficou esquecido...

E pensar que estas situações só aconteciam em Portugal! Como estamos enganados...

Ainda não sei ao certo quando me vou embora, mas a minha estadia em Paris está a chegar ao fim. Já me passeio pelas ruas em jeito de despedida. Apetece-me mandar moedas para tudo o que é fonte com que me cruzo. Este espírito de turista não me larga. Não tarda estou a roubar as moedas das mãos das crianças para ser eu a mandá-las e pedir todos os desejos que me apetecer! Achas que me vai trazer problemas?

Cya!!!!!!